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Aversão ao risco liderada pelo cenário externo

As últimas semanas foram marcadas por forte deterioração do cenário externo, especialmente no que tange a abertura na curva de juros de longo prazo e ao cenário fiscal nos Estados Unidos, juntamente com perspectivas de menor crescimento na China aliado a novos temores em relação ao sistema financeiro chinês.

O Banco Central dos Estados Unidos manteve a taxa de juros inalterada no intervalo entre 5,25% e 5,50% na sua última reunião de política monetária na semana passada. Apesar disso, tanto o comunicado quanto as projeções dos membros do Fed indicam que a autoridade monetária deve elevar a taxa de juros mais uma vez em 25 bps ainda esse ano.

De maneira geral, o Banco Central norte-americano continua enxergando uma atividade econômica robusta, com mercado de trabalho aquecido, e acredita que a inflação permanece elevada. Por outro lado, aponta que as condições de crédito mais apertadas devem impactar na atividade econômica, mercado de trabalho e inflação. Adicionalmente, as projeções dos membros do Banco Central dos Estados Unidos apontam para redução mais lenta da taxa de juros a frente, sugerindo que a política monetária deverá permanecer em território restritivo por período prolongado. As projeções dos membros do comitê de política monetária para a taxa de juros em 2024 passaram de 4,6% em junho para 5,1%. Tal postura gerou movimento de aversão ao risco e forte abertura na curva de juros, principalmente nos prazos mais longos.


Além da postura dura do Fed, os Estados Unidos vivem um impasse na aprovação do orçamento para o próximo ano fiscal, fato que pode causar paralisação do governo americano a partir do próximo mês. A última vez que esta situação ocorreu foi em 2019, quando o governo entrou em shutdown por 34 dias. A indefinição em torno do cenário fiscal nos Estados Unidos também ajudou a pressionar a curva de juros.

Em relação a China, nova rodada de indicadores econômicos fracos seguem gerando preocupações em relação a atividade em território chinês. Adicionalmente, novos eventos de não pagamento de dívidas por parte de empresas do setor imobiliário, inclusive a Evergrande novamente, alimentaram temores em relação ao sistema financeiro no país.

O governo anunciou novos estímulos, com isenção de impostos em terrenos urbanos. Além disso, o Banco Central chinês afirmou que a demanda segue fraca no país e que vai implementar estímulos monetários precisos e energéticos para reativar a atividade econômica. No entanto, mercado permanece cético e aguardando o anúncio de estímulos robustos.

A deterioração no cenário externo possui consequências relevantes para a economia brasileira. A combinação de um discurso duro do Fed e piora nas projeções para a taxa de juros nos próximos anos aliado a preocupações com possível paralisação do setor público norte-americano pressionou os prêmios de risco ao redor do mundo, com abertura na curva de juros do Brasil apesar da manutenção do ciclo de queda na taxa Selic. O mercado passou a prever Selic acima de 10% no final de 2024, ante cerca de 9,0% um mês atrás. Tal fato pode, e deve, impactar o nosso ciclo de queda da taxa de juros, tanto no que diz respeito ao ritmo de redução, quanto a taxa terminal.

A desaceleração na economia da China deve impactar os preços de commodities e influenciar negativamente as exportações brasileiras, o que pode contribuir para uma depreciação da taxa de câmbio. Portanto, apesar do cenário fiscal no Brasil seguir gerando preocupações, a cena externa parece estar comandando a aversão ao risco observada nas últimas semanas, e o monitoramento da situação acima descrita será crucial para entender os possíveis impactos para atividade econômica e, principalmente, a condução do ciclo de política monetária no Brasil.

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