Desdolarização e acordo comercial Brasil e China são termos que ganharam destaque quando Luís Inácio “Lula” da Silva, presidente do Brasil, viajou à China em abril de 2023 com a intenção de fortalecer o relacionamento comercial entre ambos os países.
China e Brasil fizeram acordos para realizar pagamentos sem utilizar o dólar a fim de reduzir os custos em negociações. Saiba mais sobre a desdolarização resultante do acordo comercial Brasil e China. Veja como ela impacta a economia brasileira!
O que é desdolarização?
Desdolarização é um termo econômico que se refere ao processo de redução da influência do dólar americano na economia de um país ou região.
Isso significa diminuir a participação do dólar no comércio internacional de bens e serviços, nas reservas cambiais dos bancos centrais e nos mercados financeiros.
A desdolarização acontece quando um país decide usar menos o dólar em suas transações comerciais e financeiras externas. Isso geralmente ocorre por vontade política de reduzir a dependência da moeda americana e da economia dos Estados Unidos. Alguns motivos que levam os países a buscarem a desdolarização são:
- questões geopolíticas: reduzir a influência política e econômica dos EUA sobre a sua economia;
- volatilidade cambial: proteger-se das flutuações do dólar que afetam os preços internos e a balança comercial;
- custos de transação: diminuir os custos de manter reservas em dólares e realizar pagamentos e recebimentos em outra moeda;
- desenvolvimento dos mercados domésticos: incentivar o uso local da moeda nacional e internacionalizar o seu uso no comércio global.
Como ela impacta o mercado?
A desdolarização é um processo pelo qual países e mercados estão diminuindo o uso do dólar americano em transações internacionais e reservas cambiais. Isso tem implicações significativas para o sistema financeiro global e os mercados locais.
Ao longo dos anos, o dólar se tornou a principal moeda de reserva e de comércio internacional. Em 2022, cerca de 60% das reservas cambiais globais e 40% do comércio internacional eram denominados em dólares. No entanto, vários países vêm buscando reduzir a dependência do dólar nos últimos anos.
Alguns motivos para a desdolarização incluem a crescente influência geopolítica dos Estados Unidos e o risco de sanções unilaterais, a busca por maior soberania monetária e a diversificação de riscos cambiais.
Além disso, a estratégia de política monetária dos EUA, como o aumento das taxas de juros, também afeta outros países. A desdolarização tem vários impactos nos mercados:
Maior volatilidade no câmbio
Primeiro, há uma maior volatilidade nos mercados de câmbio à medida que as principais moedas se tornam menos correlacionadas ao dólar. Isso porque o dólar costumava ditar as tendências de outras divisas.
Fragmentação de mercados globais
Além disso, há uma maior fragmentação dos mercados financeiros globais, com cada região dependendo menos das condições dos EUA.
Fortalecimento das moedas nacionais
Nos mercados locais, a desdolarização leva a uma maior demanda por ativos denominados em moeda local, como títulos públicos e ações. Isso fortalece o papel das moedas nacionais e reduz a primazia do dólar.
Risco de perda de investimentos
Por outro lado, investidores estrangeiros podem ficar mais reticentes em aportar recursos em economias em processo de desdolarização devido ao maior risco cambial.
Como isso se reflete na economia do Brasil?
No Brasil, o movimento vem ocorrendo gradualmente desde meados da década de 2010, quando o real se valorizou significativamente em relação ao dólar.
Isso fez com que empresas e consumidores percebessem que era possível realizar negócios e compras utilizando principalmente a moeda nacional.
Além disso, o governo implementou políticas para estimular o uso do real, como a redução de impostos sobre produtos importados e a obrigatoriedade de que empresas listadas na bolsa de valores divulguem seus resultados também em reais.
A desdolarização trouxe alguns impactos positivos para a economia brasileira. Primeiramente, diminuiu a volatilidade causada pelas oscilações constantes do dólar, trazendo mais previsibilidade aos agentes econômicos. Isso estimulou investimentos de longo prazo no país.
Além disso, como as empresas passaram a faturar mais em reais, houve um aumento na arrecadação de impostos para o governo. Por fim, a desdolarização também contribuiu para a redução da dívida pública, que é, em grande parte, indexada ao dólar.
No entanto, o processo ainda não está totalmente consolidado e enfrenta algumas resistências. Muitas empresas multinacionais e setores da economia, como o de commodities, ainda dependem muito do dólar em suas operações.
Além disso, em períodos de turbulência econômica global, o real tende a se desvalorizar rapidamente em relação à moeda americana, dificultando a desdolarização.
Por fim, a volatilidade política interna do Brasil gera incertezas que também atrapalham a substituição do dólar pelo real em certos negócios.
Brasil, China e a desdolarização
Há alguns meses, anunciou-se um importante acordo comercial Brasil e China que prevê a desdolarização gradual das transações entre os dois países.
Atualmente, a grande maioria das trocas comerciais globais ainda são liquidadas em dólares americanos, porém Pequim e Brasília vêm trabalhando para reduzir essa dependência da moeda norte-americana.
O acordo comercial Brasil e China firmado prevê que, a partir de agora, 5% das transações entre os dois países passem a ser liquidadas em yuan chinês (moeda chinesa) ou real brasileiro (moeda brasileira).
Essa porcentagem deverá aumentar gradualmente ao longo dos próximos cinco anos, até que 30% das trocas comerciais entre os dois países sejam realizadas nas moedas nacionais dos parceiros, e não mais no dólar.
Vantagens para o Brasil e a China
A desdolarização das transações é um objetivo estratégico tanto para a China quanto para o Brasil. Pequim busca reduzir a influência dos Estados Unidos sobre a economia global e sobre o sistema financeiro internacional, que são dominados pelo dólar.
Já para o Brasil, a redução da dependência da moeda americana é uma forma de se proteger contra as flutuações do dólar, que impactam os preços das exportações e importações brasileiras.
Do ponto de vista chinês, o acordo também é importante para consolidar o status internacional do yuan. Ao aumentar gradualmente o volume de transações liquidadas na moeda chinesa, a China espera que o yuan ganhe mais projeção e passe a desempenhar um papel mais relevante no comércio global, desafiando a hegemonia do dólar.
Para as empresas brasileiras, o acordo traz o benefício de reduzir o “risco-câmbio” em transações com a China. Ao liquidarem parte de seus negócios em reais ou em yuan, em vez de apenas em dólares, as empresas passam a ter menos exposição às flutuações da moeda americana, o que permite uma melhor gestão de custos e preços.
De modo geral, a desdolarização é um movimento benéfico para a economia brasileira, desde que implementado gradualmente e de forma sustentável em longo prazo. Contudo, ainda há desafios a serem superados para que o real se torne a moeda de fato dominante nas transações internas. Um cenário de maior estabilidade econômica e institucional no Brasil certamente ajudaria nesse processo.